A verdadeira selva urbana

Passo a relatar aquilo que aconteceu hoje ao fim da manhã numa rua respeitável (pensava eu) da nossa capital:
1º - Homem, bem vestido e com ar de empresário, estaciona o seu carro em segunda fila para se sentar numa esplanada e tomar o pequeno-almoço no café
2º - Outro homem, agitado e apressado, aproxima-se do dito carro e, com objectos não identificados semelhantes a pedras, parte o vidro de trás e todos os vidros laterais. Não contente dirige-se ao café e dá 3 ou 4 murros no dono do carro, que tinha ficado petrificado com a ocorrência
3º - Agressor foge a correr e ninguém faz nada

--» Informação relevante fornecida por um dos (sempre bem informados) transeuntes locais: o senhor bem vestido e o senhor que parte vidros tinham sido sócios mas, alegadamente, o bem vestido burlou o que parte vidros em 200 mil euros.
(Pois... dois senhores muito íntegros, sim senhor!)

Mais uma manhã pacata em Lisboa :s

Horóscopo




PEIXES


"SAÚDE: Dia de boas melhorias na saúde; tratamento adequado para uma doença pode ser encontrado.

AMOR: Não deixe de se pronunciar acerca do que sente que está mal na sua relação; pode desbloquear alguns caminhos

DINHEIRO: Vai mostrar muito dinamismo e profissionalismo no tratamento de todas as questões."



- Afinal estas previsões são ainda menos credíveis do que eu pensava!

Suspiro, suspiro...

...o que fazer quando o tempo passa mas a tristeza fica?
Hoje acordei com um dos meus famosos pesadelos e tenho a sensação de estar a revivê-lo até agora. Eu não sou grande fã de astrologia mas acho que hoje até o meu horóscopo deve ser mau!

Eu e o vírus

Estou com gripe. O vírus que maliciosamente me colonizou devia ter vergonha! E além de ter vergonha devia ser muito mais humilde. Passo a explicar: penso que todos concordarão comigo que, no estranho e pouco dinâmico mundo dos vírus (meras cápsulas polissacarídeas que se passeiam com umas moléculas a chocalhar lá dentro e cuja única actividade é infectar células realmente úteis para a Humanidade), cada um devia escolher um sistema de orgãos para infectar... Um e não quase todos aqueles que o pobre ser humano possui.
Eu sei que o meu vírus é bastante benigno e não me posso queixar muito mas a verdade é que um microorganismo que causa cefaleias, dor ocular, náuseas, vómitos, otalgia, odinofagia, febre, rinorreia e tosse seca só pode ser um vírus megalómano!
Expresso então a minha revolta, por escrito, a todos os vírus, eventualmente letrados e eventualmente possuidores de uma ligação à Internet, denunciando este claro abuso de poder.
Aquela ideia que também já me ocorreu é a de que a comunidade dos vírus poderá ter-se revoltado contra nós, alunos de Medicina, por tentarmos avidamente erradicá-los dos nossos pobres doentes, enviando para nos infectar um dos seus elementos mais maçadoramente polivalentes. Se for este o caso a minha denúncia deixa de sê-lo e passa a ser um aviso: provavelmente no percurso evolutivo que nos resta enquanto seres vivos (se é que os vírus são mesmo seres vivos) vocês, pequenas partículas irritantes irão certamente prevalecer muito além da nossa extinção, contudo, e apesar de não haver um único antiviral de jeito no mercado, com certeza não desistiremos facilmente de vos minar o estúpido e parasitário modo de vida.
Depois deste longo e, provavelmente estranho, post devem estar vocês (humanos respeitosos e atentos) a concluir tristemente que o vírus também infectou o meu Sistema Nervoso Central provocando alguma confusão e, quiçá, alguns traços de demência.
Prometo um post mais ortodoxo da próxima vez lol

O meu sonho de flor lilás


Eu e tu neste campo verdejante, crescemos lado a lado, ondulámos ao sabor do mesmo vento e olhámos um para outro nas gotas de chuva. Quis a Natureza que eu aqui ficasse, estática, presa a este solo fértil, vendo ao longe um horizonte que nunca poderei alcançar. Deu-me pelo menos o privilégio de brotar junto a ti, de me enlaçar no teu verde caule e beijar as tuas pétalas macias. Vamos enfrentar o frio da noite assim abraçados, para sempre juntos na nossa eternidade de alguns dias. E se o fim da Primavera trouxer a nossa morte, nada mais ambiciono que murchar junto a ti e adormecer contigo nesta terra onde nascemos.


Serendipity

"Serendipity is the effect by which one accidentally discovers something fortunate, especially while looking for something else entirely."

Serendipity, considerada uma das 10 palavras inglesas mais difíceis de traduzir, é utilizada para exprimir, num só termo, os felizes acasos que originaram grandes descobertas. Neste contexto podemos incluir algumas das grandes descobertas da Humanidade, por exemplo quando Fleming descobriu acidentalmente a penicilina ou quando Newton percebeu que a força da gravidade existia por lhe ter caído uma maçã na cabeça.

Até ontem desconhecia por completo a palavra Serendipity. Contudo, quando por um mecanismo semelhante ao que a própria tenta definir, me deparei com ela, apaixonei-me pelo seu significado. Revi-me nele. Quando no meu "ciclone de pânico" descubro inesperadamente algo de extraordinário acerca de mim própria ou dos outros penso que isso só pode ser Serendipity.

Na verdade, Serendipity não surge de um mero acaso pois precisamos de estar atentos e ter uma mente aberta para compreendermos as coisas fantásticas que acontecem mesmo debaixo do nosso nariz. Como um dia disse Louis Pasteur: "Chance favors the prepared mind."

Caminhada

Estou nesta espiral de fumo, onde o início é o fim e há sempre mais uma metade para percorrer. São nuvens de poeira cinzenta que me impedem de ver mais além e que atravesso de olhos bem fechados. A cada passo, cânticos extasiantes e amaldiçoados tentam conduzir-me ao abismo e milhares de vultos que não distingo tentam, enérgicos, empurrar-me para os meus medos mais profundos. De pés bem cravados no solo, interrompo a marcha. Dou um grito surdo no meio deste ciclone de pânico. Abro os olhos. Milhares de pequenas partículas dolorosas obrigam-me a fechá-los logo de seguida. No campo escuro da minha cegueira projecto milhares de cornucópias coloridas, um caleidoscópio confuso que não pedi para ver. Repentinamente, todo o meu corpo é atingido por uma dor violenta, excruciante, irreal. Cedo ao peso dessa dor e deixo-me cair no chão, estupidamente macio. Adormeço profundamente. Algo de mim se ergue na atmosfera e observo de longe o meu corpo inanimado, envolto em colunas de fumo negro, cada vez mais negro. No céu a lua brilha, exuberante, e chama-me para si num apelo irresistível. Não consigo voar tão alto.

O meu novo namorado!




É doce!

Tem um nome latino!

Tem recheio!


"Porque Bueno é Bom" (provavelmente o pior slogan do mundo loooool)

Pesadelos



Há muitas, muitas noites... Há quase um mês que não consigo dormir descansada. Espero até ficar cansada, até os meus olhos desejarem ardentemente fechar-se, até os meus braços relaxarem por completo e a minha mente estar demasiado exausta para pensar em coisas menos boas. Quando chega esse momento, deito-me e adormeço como se mergulhasse num mar de tranquilidade e abstracção. Depois, invariavelmente, pelas 4 ou 5 da manhã, desperto numa ansiedade terrível, com medo de tudo em meu redor e uma angústia desesperante no peito. Repetidamente, pesadelos horríveis assaltam o meu sono, muitas vezes sem que deixem qualquer pista de conteúdo quando deles desperto, assustada. Depois do susto inicial tento em vão recuperar o sono, agarrar de volta aquela mansidão que me faria descansar até que o sol raiasse de novo... mas nunca consigo. Já tentei tudo: continuar deitada às escuras à espera que a noite me acalme os pensamentos, levantar-me e molhar a cara para espantar os medos, ligar a luz para iluminar os vultos assustadores, ler para dispersar o rodopio de ideias. Nada resulta. E assim fico, desperta e taquicárdica até ao amanhecer, até ao toque do despertador. Levanto-me de manhã como se nunca me tivesse deitado. E, assim, os dias para mim são um só.

Alguém me pode dizer como se adormece a seguir a um pesadelo?

Pseudoautoanálise!

Nota mental (e agora escrita) de hoje: Quando as coisas correm mal e somos atingidos por ventos a 150 km/hora, chuva torrencial, granizo, avalanches e todo o género de metáforas metereológicas que possam retratar uma catástrofe emocional, nunca deixar que a tempestade entre dentro de nós. Manter a chamazinha acesa aqui dentro, mesmo que às vezes ela esteja pequenina e resguardada. Ter uma estrela portátil, uma que nunca se vai embora e nunca nos abandona: a confiança no nosso valor.
Se amam e se acreditam nunca desistam disso só porque se confrontaram com pessoas pobres de espírito. Cada dia traz uma nova oportunidade para construirmos algo belo.

Aparente felicidade --» Desilusão e mágoa --» Desespero e incredulidade --» Raiva e frustração --» Introspecção --» Reconstrução pessoal e estabelecimento de novos objectivos --» Olhar em volta --» Apoio e afecto de pessoas extraordinárias + Reconhecimento pelas acções feitas --» Caminho (ainda que longo) para a felicidade real!!

Crepúsculo


Aqui estou, olhando pela minha janela. Quantos pedaços de gente e de vida já capturei através deste vidro? O dia despede-se com um derradeiro sorriso dourado, um adeus exuberante e lânguido que entra sem autorização pela minha sala. Sinto a terna calma do fim de tarde e o tempo quase pára.


Cheguei há pouco. Tinha estado num café, pejado de gente, daqueles em que infelizmente ainda é permitido fumar. O cheiro do tabaco entranhou-se na minha roupa e dá um toque desagradável a este momento. Passei uma boa tarde. Mas continuo sem compreender estes antros do vício onde várias pessoas se reúnem para retirar alguns anos de vida a si próprias e aos outros. O fumo cinzento e baço que paira sobre as mesas é como uma nuvem de morte, voluntariamente colocada sobre todas aquelas cabeças.
Num acto mecânico levam o cigarro à boca, uma vez, depois outra, frases entrecortadas por baforadas de fumo. Na mesa ao meu lado alguém diz 'tenho de parar de fumar que isto só faz mal'. O interlocutor sorri e olha para o cigarro que ele próprio segura entre os dedos: 'isso é se conseguires'. Ao lado das chávenas de café meio bebidas vê-se o invólucro maldito, aquele que diz qualquer coisa do género:"atenção que vai gastar dinheiro num produto que quase invariavelmente o vai matar, de uma ou outra forma grotescas".

Matamo-nos a pouco e pouco em tantos pequenos actos. Eu também o faço certamente, de uma forma mais subtil e insidiosa, cada vez que como batatas fritas ou quando opto por ficar sentada em vez de dar uma corrida.

Lá fora o sol já se pôs mas o dia ainda está claro. Em breve o astro-rei vai ceder o seu lugar à lua e milhões de pontos luminosos surgirão no céu de veludo negro. A minha tentativa de descrever a noite nunca se aproximará daquela que ele fez há tantos anos, aquela que tanto me fascina e apaixona. Quando a li pela primeira vez tive a certeza que a poesia era uma das coisas mais belas deste mundo.


"Vem, Noite antiquíssima e idêntica.
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.
(...)"
Álvaro de Campos

Um dia serei médica!

Os dias passam. Descubro que em cada um deles há pessoas especiais para conhecer e ajudar. Olhares que não esquecerei mais. Pessoas simples que sofrem provações enormes e injustas e mesmo assim não deixam de sorrir. Esta coragem alimenta o meu espírito, faz-me sentir mais forte e capaz de tudo para superar os problemas e as tristezas. Quero dar o meu melhor e tentar fazer a diferença na vida destas pessoas. É assustador e fascinante aceitar esta responsabilidade. É a oportunidade única de viver intensamente a complexidade humana.

Chuva

Chovia. Eu estava cansada mas contente. Por uma fracção de segundo fixei o céu. As gotas caíam anarquicamente sobre as casas e sobre as pessoas. Na relva verde um melro saltitava, as penas brilhantes de água, os movimentos enérgicos de regozijo perante o pequeno dilúvio. Eu caminhei, expondo-me à intempérie, e senti as gotas beijarem o meu rosto. Lá em cima as nuvens alimentavam o meu sonho de Inverno, resfriavam a minha pele morna e apaziguavam o meu entusiasmo. Não quis apressar-me. O vento ondulava no meu cabelo húmido e sibilava cantigas ancestrais. Todos viveram em mim... a chuva, o vento, a relva, os pássaros. Ainda vivem, agora que os recordo. Pequenos momentos ensinam muito. Desejo ver além da aparência das coisas, sentir a vida e a profundidade de cada gota de chuva. Estou viva e sei quem sou.

Mudar... sabe bem!



Estou feliz! :) sinto-me bem, pronto... não há outra forma de descrever o meu estado de espírito!

E tudo isto porque decidi investir na minha, há muito negligenciada, massa muscular e acabei por perceber que estava a investir no meu bom humor :) é verdade! Aos 22 anos descobri que o exercício físico me faz bem. Apesar de já não ir a tempo de salvar a minha densidade óssea (portanto só um milagre me livrará da osteoporose) ainda vou a tempo de salvar alguns sorrisos, momentos de diversão e (como alguém me disse há muito pouco tempo :p) aquela sensação boa de chegar a casa cansada por ter feito algo útil e saudável.

Mas, para aqueles que pensam que o desporto jamais fez parte do meu, já não tão curto ('snif'), percurso de vida aqui fica a preciosa informação que em tempos longínquos, algures numa pré-adolescência que terei tido, fazia ginástica acrobática!! Pois é, as minhas maiores proezas eram o mortal à frente sem preparação e o mortal a trás na cama elástica! Quem me viu e quem me vê!

Um beijinho grande para todos, hoje em especial para a menina que me convenceu a andar aos saltinhos e levantar pesos com os pés lol

Diário

Há dias esquisitos e hoje foi um deles. Dormi pessimamente mal, acordei às seis e meia da manhã para estudar aquilo que devia ter estudado no meu quase inútil e deprimente fim de semana, decorei apressadamente alguma matéria avulso até às nove e meia e depois fui assistir a algo que deve ter sido uma aula de Dermatologia no fim da qual respondi a uma pergunta de avaliação que já não sei bem qual era porque copiei integralmente a resposta de umas folhas que jamais tinha lido. De seguida os meus neurónios viáveis esforçaram-se por responder a um teste de escolha múltipla no qual várias das cruzes pretas colocadas por mim devem originar outras tantas cruzes vermelhas colocadas pelo docente. Pelo meio devo ter sofrido dois ou três impactos emocionais graves que certamente resultaram na morte de miócitos cardíacos.
Depois do almoço, presumivelmente na sequência do aporte de nutrientes, a esmagadora maioria das minhas células apercebeu-se, finalmente, que eu estava viva e acordada e que era premente desenvolver actividades proveitosas e direccionadas. Assim, a aula da tarde soou muito melhor.
Depois formularam-se planos para descomprimir jogando Playstation mas, como mais uma frustração faz sempre falta, havia uma Bela Adormecida na mesma divisão que o aparelho. Como alternativa há sempre muita conversa para pôr em dia :)
E pronto, assim se passaram as horas e se atrasaram as fitas de curso que esperavam para ser preenchidas.
Aqui estou agora escrevendo para vocês, cansada mas quase quase contente porque consegui chegar sã ao fim deste dia. Amanhã será melhor!

Poema da Despedida

Passam as horas e eu espero
Olhando de frente o tempo infinito
E o relógio, rude mas sincero,
Corre lesto, indiferente ao meu grito.

O meu sorriso perdeu-se no mar
Numa onda forte que não voltou
Naveguei em lágrimas p'ró encontrar
Mas só vi o monstro que o afundou.

Nem tempo tive p'rá despedida
Tão certeira a seta que me atingiu
Dissipou-se logo ali toda uma vida,
Alma que eu amava e que fugiu.

Era uma vez...

Era uma vez uma menina. O seus olhos eram negros e cheios de sonhos e a sua alma jovem tinha mil ilusões de felicidade. Conforme os anos passavam a menina sofria desilusões e tristezas, mas nunca deixou de acreditar no amor, no respeito e na confiança. Todas as noites sonhava com o dia em que poderia entregar a alguém todos esses sentimentos lindos que cultivava no peito e viver numa comunhão quase perfeita, de tolerância e cumplicidade. Um belo dia a menina acordou e sentiu que o sol lá fora brilhava de forma diferente, os passarinhos cantavam mais alto e o céu estava mais azul. A esse dia seguiram-se muitos outros, radiosos e exuberantes. Por vezes surgiam algumas nuvens mas depressa se dissipavam. A menina sabia que era feliz! Sabia que a perfeição era utópica mas o amor verdadeiro não. Soprava as nuvens para longe com todas as suas forças e construía a pouco e pouco uma linda paisagem de Verão. A cada dia sabia que a sua mão se enlaçava noutra, que os seus lábios e a sua pele eram amados e desejados. Sentia-se bela. Os dias passaram, e depois os meses e os anos. E a menina continuava a acreditar naquele amor. Era dele que tirava energia e esperança. Uma noite a menina estava cansada, exausta, deixou-se cair na relva fresca e macia do seu jardim e adormeceu fixando a Lua, imaginando nela a cara daquele que amava. Na manhã seguinte, quando abriu os olhos, não viu o sol nem o horizonte nem as flores... Havia nuvens escuras por todo o lado e chovia torrencialmente. Coberta em lama correu por entre os despojos do seu sonho sem acreditar naquilo que via. A menina gritou e chorou, pediu perdão por ter adormecido mas ninguém a ouviu. Ergueu os braços para o ar mas ninguém a abraçou, tentou reconstruir o seu mundo mas não foi capaz. Estava sozinha. A pessoa que ela amava nunca tinha existido. Como podia ter existido e desaparecido sem deixar rasto? Implacavelmente, como se os sentimentos fossem pedaços de pano velho que se atiram para o lado quando estamos fartos de os ver. A menina agarrou em retalhos da sua paisagem destruída, abraçou-os com força e perguntou porquê. Beijou-os, sentiu-lhes o cheiro uma última vez. E chorou. Durante dias não abriu os olhos... Não queria ver aquele mundo feio em que os sonhos não valem nada, em que confiamos nas pessoas e elas nos apunhalam pelas costas como se não merecessemos respeito ou consideração. A menina sentiu-se suja e usada. Saiu lentamente do jardim e caminhou até encontrar uma estrada. Nessa estrada havia um grupo de pessoas, rostos bonitos e familiares. A menina estendeu novamente os braços e abraçou os amigos. Aquele abraço deve ter durado horas.. forte e intenso. Depois, a menina olhou em volta e soube que a vida nunca mais seria a mesma, soube que os seus sonhos tinham morrido para sempre e soube que a sua confiança tinha sido ferida tão profundamente que jamais poderia sarar. A menina aprendeu que há pessoas que não sabem amar. Há pessoas que têm corações pequeninos e assustados. Sabe que um dia voltará a ter sonhos e talvez volte a amar. Sabe também que ser desleal e rude com quem nos ama é um crime sem perdão. Tem raiva e não tem medo de o admitir. Sente nojo e tem pena de o sentir.

Ser ou não ser?

Complexos. Nós, humanos, somos seres estupidamente e maravilhosamente complexos. Não controlamos quase nada e não sabemos praticamente nada sobre nós próprios. Andamos muitos de nós seis anos a aprender enciclopédias de informação sobre o nosso corpo, sobre o nosso funcionamento. Portanto as hormonas, as células, as enzimas, os anticorpos são meus no entanto se não lesse isso num livro nunca desconfiaria da sua existência. Para complementar esta complexidade somos tão profundamente rudimentares a controlar os nossos pensamentos e as nossas emoções.
Vivemos num carrosel labiríntico de biologia e psique, que surge de nós mas que no fundo ignoramos, num estranho paradoxo, por vezes cíclico, por vezes imprevisível. Meu Deus, olho para mim e vejo tão pouco daquilo que sou. Decido coisas que a minha própria mente não cumpre. Sinto coisas que a minha alma não suporta. E tantas vezes parece que o meu ser se projecta sobre os outros e sobre as coisas quando isso não pode ser possível porque a minha matéria é finita. Não quero estar triste, mas estou. Quero esquecer mas não consigo.
Como posso eu fazer parte de mim própria?

Perfume novo, Vida nova


O olfacto é, de todos os maravilhosos cinco sentidos da raça humana, aquele que mais vezes é subvalorizado e desprezado. Contudo, e pelo menos no meu caso, os odores trazem-me memórias com uma grande facilidade e com enorme intensidade. Assim, não é raro ir na rua e ao passar por mim alguém com um perfume igual ao que já usei em algum momento da minha vida ter "flashes" dessa altura, nítidos em imagens e emoções. Essas situações despertam-me sorrisos ou então "nós" desconfortáveis na garganta. Ontem reparei que o meu perfume estava no fim... Reparei também que ao inalar o odor daquelas últimas gotas não senti nada de positivo ou encorajador, por isso fiz o que tinha a fazer: deitei fora a embalagem do perfume juntamente com aquelas últimas gotas, sem a ilusão de que levasse embora no seu interior todas as memórias que tinha testemunhado.
Depois saí para comprar um perfume novo. Embalagem colorida e curvilínea, cheiro frutado e doce. Prenúncio de novas e boas memórias? Espero que sim :)

...


Reflexo...
Sou eu olhando as águas calmas e eu também retribuindo o mesmo olhar. Como num sonho imagino-me num cenário idílico onde as cores da natureza se confundem comigo e com os meus pensamentos. Fecho os olhos e vejo-me melhor do que nunca.

Sem título

A minha cabeça está vazia. Então porquê estar a fazer um texto acerca disso? Porquê querer informar os outros de que não tenho absolutamente nada de interessante para lhes dizer? Bem, acho que tenho a esperança que alguém tenha alguma coisa para me dizer a mim... Qualquer coisa que povoe a minha mente de ideias e imagens, que me retire deste embotamento afectivo em que me encontro. Até lá acho que vou ter de cair na tentação e comer um chocolate, ou dois... Preciso de um aporte urgente de endorfinas!

Aos meus amigos:

Dedico aos meus amigos cada palavra que escrevi ou vier a escrever. Vocês que compreendem a minha tristeza, que me dão a mão quando eu preciso, que mandam embora as lágrimas quando eu choro. Vocês que sorriem comigo e para mim. Vocês que me fazem levantar todos os dias de manhã e acreditar que nunca vou estar sozinha.

Partilhar...

Aqui estou escrevendo algumas palavras soltas, a horas impróprias para quem tem milhares de coisas para estudar. A verdade é que todos os dias são um desafio de auto-controlo e de bom senso e, muitas vezes, nos momentos em que quase perco o Norte (e naqueles em que acabo por perder mesmo a noção de todos os pontos cardeais) imagino-me a escrever os meus textos e sinto-me reconfortada. Agora tenho este novo pequeno objectivo de partilhar o que me vai na alma... Gosto de pensar que alguém, algures, vai ler as minhas palavras e tirar delas um significado especial e pessoal. E a todos os que, de alguma forma, se encontrarem nas minhas palavras peço que comentem e partilhem também.

Tédio

Lá fora está sol... deve estar quente... se calhar corre uma brisa. Vejo tudo pela janela, bocejo, aconchego-me no sofá. É o reino do tédio e da preguiça. Fecho os olhos e aproveito o silêncio, saboreio o milésimo de segundo em que não penso em nada. Estou só.

Logo a seguir recomeçam os pensamentos monótonos de culpa e tristeza, recalco-os para uma espécie de esconderijo emocional e reconstruo-me.

O tecto branco, as paredes, os objectos estáticos e sem vida. Permanecem imutáveis e indiferentes ao meu estado de espírito. Se agarrar aquele prato de vidro e o arremessar com força contra a parede ele não vai gritar, não vai protestar contra a injustiça ou estupidez do meu acto, não vai ficar desiludido com a minha falta de escrúpulos nem vai acusar-me de projectar a minha raiva acumulada, destruindo num só gesto a sua frágil existência. De certeza que vai ficar no chão, estilhaçado, irreconhecível, convertido em milhares de entidades irregulares e cortantes.

Tenho horas de estudo pela frente, ou pelo menos era assim que devia ser. Mas ainda não estou preparada para começar... só mais umas palavras... só mais umas frases minhas. Tenho um prazer idiota em ficar assim, olhando este espaço sobejamente conhecido e sabendo que me aguardam mil responsabilidades.

Ao fundo há um espelho, desenquadrado do resto, reflecte a sala e reflecte-me a mim.
Quem és tu menina, com esse olhar triste?, diz ele. Nunca te vi por aqui... Venderam a casa?
Não, não venderam a casa. Não me reconheces?, respondo eu.
Fazes-me lembrar alguém... Alguém que vivia aqui. Alguém que costumava sentar-se nesse sofá e olhar por aquela janela. Sabes de quem falo?
Acho que sim. Acho que sei. Eu sou a Sofia. Essa pessoa de quem falas não vai voltar.
Eu já desconfiava. É pena, gostava dela.

Encolhi os ombros e olhei o meu reflexo.
Está na hora.

Nada

Sinto o dilema entre o que devo e não devo, cresce uma grande mágoa e eu escrevo, escrevo, escrevo.
Já não há mais lágrimas pra chorar e todas as memórias que tenho não posso lembrar.
Este vazio que me ocupa e não consigo preencher, esta luta permanente entre o que devo ou não fazer.
Desculpem o meu humor mas estes dias, estas horas.... são insuportáveis.