Fui ridícula?! Pois fui



Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Álvaro de Campos

2 comentários:

Jotomicron disse...

É impressão minha ou este post já teve outro título? Gostava mais do outro.

As cartas de amor podem ser ridículas, mas não o é quem as escreve ou recebe, porque se é ridículo expressar o amor através das palavras, nada tem de ridículo o sentimento, a emoção, a experiência que é estar-se apaixonado!

Gosto mais do outro título =)

sofia disse...

Sim, já teve outro título lol
Felizmente eu nunca tive grandes complexos em ser ridícula neste tipo de contexto. Coloquei aqui o poema porque o acho delicioso, nomeadamente aqueles últimos versos entre parentesis mas também porque concordo vivamente com o Álvaro quando escreve "Só as criaturas que nunca escreveram/
Cartas de amor/É que são/Ridículas".