Pediatria: Visita ao mundo que os adultos criaram para as crianças

Paredes largas, espessas, imponentes, cobertas de desenhos coloridos retratando de forma infantil um género que combina o surrealismo e a pura anarquia. Em cada sala um tema: os meninos "bonecos", os meninos "feiticeiros", os meninos "reis", os meninos "qualquer coisa que os adultos imaginam que uma criança gostaria de ser". Mas onde estão todos?

Ali! No jardim! É dia de festa. Há porquinhos e ratinhos e estrelas e tubarões surfistas a saltar por todos os lados, alguns mais talentosos projectam toda a sua psicomotricidade no palco improvisado. Alguns têm papás que não sabem sê-lo, papás que batem e que ofendem, papás que ignoram e negligenciam. Mas ali, naquele cenário de cartão e aguarela, elas são todas carochinhas e eles são todos mosqueteiros, metaforicamente reescrevendo a sua história rumo à felicidade.

Tudo é tumulto, uma confusão comovente de olhos límpidos e sorrisos desdentados, de bibes e de babetes, de bonés e de enfeites de cartolina. E nós somos um grupo de gigantes tentando entendê-los. As cadeiras são pequeninas, e as caminhas, e as mesinhas e todos os inhos e inhas que também vi mas já não me lembro. De repente sinto vontade de dançar também, de desenhar, de encolher e vestir um daqueles vestidos de princesinha. Da cozinha vem o cheiro do almoço, um cheiro que me é familiar...sim, cheiros que despertam memórias...eu conheço esta sensação!

Olho para cima e vejo todas aquelas pessoas grandes sem perceber o que fazem ali à hora da sopa. Corro para o meu lugar no fundo da mesa amarela, esgueiro-me na cadeira pondo os joelhos no assento e confirmo o meu nome no autocolante com passarinhos vermelhos:
S--O--F--I--A!

2 comentários:

Jotomicron disse...

O que aconteceu à nossa compreensão tão ingénua e divertida que antes tomávamos por conhecimento total? Quando éramos crianças o mundo era todo nosso, ou por outras palavras, o que era nosso constituía a totalidade do mundo. O resto não tinha lugar dentro de nós! E por isso sabíamos tudo sobre o mundo.

Hoje perdemos essa sensação de totalidade, conseguimos abraçar uma realidade maior e ver que nela há e sempre haverá pedaços que nos serão desconhecidos.

Resta decidirmos se ainda conseguimos regredir à ingenuidade infantil ou se, pelo contrário, as crianças fazem parte do mundo que não nos será dado a entender.

Eu prefiro a primeira hipótese! =)
Viva a diversão, vivam as crianças, vivam os bibes e as batas e a plasticina nas unhas e os sorrisos desentados... =P

Sandra disse...

:)

pena a visita ao centro nao ter trazido nenhum proveito para o nosso exam...para mim acabou por ser uma perda de tempo!!