As pessoas que não valem grande coisa

Existem neste mundo, a meu ver e concebendo que cada um de vocês já fez uma análise semelhante e terá a sua própria opinião, três grupos de pessoas:
1 - As pessoas que valem a pena
2 - As pessoas que não valem nada
3 - As pessoas que não valem grande coisa


Ora, a minha preocupação mais recente reside em identificar na multidão este último grupo de indivíduos que, por agir por vezes como se valesse a pena e outras vezes como se não valesse nada baralha esta metódica categorização mental.

Abaixo esta zona cinzenta do carácter que recorre a atributos tão "desejáveis" como o cinismo, o sarcasmo, a condescendência, o sentido de humor dúbio, a dualidade de critérios, a bipolaridade de humor e principalmente a profunda falta de respeito pela pessoa alheia. 


Vulgo, é o pessoal que faz o que lhe dá na telha e depois pede desculpa (para reincidir logo a seguir) e que dança consoante a música (mesmo, desde a clássica ao kuduro e diz gostar de todas muitíssimo). Como bónus têm frequentemente uma filosofia de vida que se baseia em actividades fúteis e em compensar as frustrações do dia-a-dia tornando o dia de outra pessoa um bocadinho pior (como aqueles monstros das histórias infantis que se alimentam das boas energias e da felicidade dos meninos).

Vulgo ainda mais, não mataram ninguém mas são uns parvalhões.

O dia das horas mortas

E quando o dia é feito de horas mortas?

Os últimos suspiros de alguém, as últimas recordações, os derradeiros arrependimentos, a reconciliação final com o Criador, quem quer que ele seja.
Quando a tua mão é a última a ser apertada, quando recebes o afecto do desespero, que te marcará para sempre. E ainda mais quando a despedida é um até já de longos anos, uma mão que te vai esperar algures no sítio para onde vão as almas, imutável, com as rugas do momento da morte, ou talvez diferente, com a delicadeza da juventude distante.

E eu fecho as páginas do processo, o resumo de uma vida em duas páginas, porque quis transferi-la para uma mortalha diferente, aquela que ela me pediu. Não sei sequer se lá chegou. Arrumei o meu cacifo e fui para casa. Já as despedidas tinham sido feitas e as últimas recomendações dadas. O meu até breve pouco sincero desabou na ausência de expectativas dos olhos dela, revirados já, a respiração profunda, o pedido que fez enquanto me afastava - "alguém que me ajude a deitar, quero fechar os olhos, quero que isto acabe, já vivi demais".

Ainda não decidi se quero saber o que se seguiu. Enquanto conduzia, no forno das duas da tarde, a minha revolta era anestesiada pela desidratação. Se calhar deixo-me ficar assim, na ignorância do momento da morte, podendo por isso idealizá-lo na minha mente.

Assinei o relatório e fechei o dossier azul, descrevi exaustivamente muitas coisas que fiz, outras que não fiz, que não quis fazer, que não sei porque se fizeram... Atiraram-me o fardo e eu fiz dele a missão. E agora a missão terminou.

Durmam bem. Façam o melhor possível todos os dias porque no final, quando só restarem os lençóis tristes do hospital e o ressonar pausado do doente do lado, é isso que vai povoar a vossa memória.