O súbito interesse das coisas desinteressantes

É nos momentos de estudo intensivo, mais particularmente naquela fase em que há muita pressão mas ainda faltam alguns dias para o exame, que acontece um fenómeno fantástico, comum à maioria dos indivíduos da raça humana que dedicam uma parte importante do seu tempo à contemplação intensiva de apontamentos, tratados, livros, consensos ou outra literatura de índole semelhante: as coisas mais monótonas e casuais da vida quotidiana tornam-se, subitamente, coisas interessantíssimas.

O voo anárquico de uma mosca, nomeadamente quando insiste em colidir insistentemente com a janela fechada, o movimento das folhas das árvores da praceta em frente quando faz vento, o barulhinho que se gera quando fechamos a tampa do marcador fluorescente com uma determinada força, todos estes fenómenos se revestem de uma magnificência inesperada quando o estudo é a mais imperativa prioridade.

Em situações dramáticas e extremas, que ocorrem especialmente quando o tema do estudo é tão relevante para a vida real como saber a cor do tecto quando se está num quarto às escuras com os olhos fechados, o folheto de promoções do Lidl ou o programa da manhã da TVI podem tornar-se apelativos.

Ultimamente, dou por mim a fotografar o mobiliário doméstico, em reportagens dignas da "Casa Cláudia", dada a impossibilidade de ir fotografar o mundo exterior sem me afastar, física e mentalmente de forma irremediável, da minha tarefa presente.

A todos que me compreendem e que comigo se solidarizam: boa sorte!

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