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A noite vai longa, a manta felpuda sobre as pernas, as pálpebras cansadas e relutantes.
Os últimos dias passam-me rapidamente na memória, sucessão de slides desfocados, imagens irreais como se a vida fosse estática e feita só de cores primárias.
É no silêncio deste último suspiro de vigília que as minhas mãos ficam mais vazias, consolando-se uma à outra numa recordação mecânica das tuas.
Na confusão criativa destes minutos recordo a paradoxal sabedoria popular:
"Quem espera, sempre alcança."
"Quem espera, desespera."

Reformulo, mentalmente: "Quem espera, desespera e, como se não bastasse, nem sempre alcança".

Ainda assim, se o coração teima em não desistir, a lógica afaga-o de mansinho e deita-se com ele em concha, num último sono partilhado.

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